sábado, 11 de julho de 2009

Você quer voar em pé?


A empresa irlandesa Ryanair anunciou a sua intenção de enviar um pedido aos fabricantes de aeronaves para um projeto de vaga para passageiros transportados em pé.

Conhecida pelo burburinho que suas extravagantes estratégias de marketing e contenção de despesas têm causado, esta companhia de perfil baixo custo também sugeriu entre outras medidas as seguintes:

  • Cobrança pelo uso dos sanitários à bordo, inclusive do papel higiênico, por um sistema de depósito de moedas como o das máquinas de refrigerantes. Ou seja, além do passageiro pagar ainda deverá ter troco exato para satisfazer suas necessidades fisiológicas básicas em pleno vôo.
  • Imposto de obesidade para quem está acima da média de peso.
  • Sobretaxar a passagem de quem levar sua própria comida à bordo.
  • Cobrar para acessar o website da empresa.
  • Cobrar para usar o chek-in do aeroporto. Quem não fizer chek-in pelo site pode pagar outra taxa para fazê-lo no aeroporto.
  • Sobretaxar métodos não preferíveis de pagamento (tudo o que não seja dinheiro vivo).
Aproximadamente 20% do lucro de €2,942 milhões (€598 milhões exatamente) vem de cobranças alternativas ao preço da passagem aérea. A revista britânica Holiday Which? classificou a empresa como pior inimigo do consumidor este ano por cobrar por itens opcionais inéditos.

Em Junho do ano passado seu presidente Michael O'Leary delcarou à imprensa alemã que sua business class não terá reduções de custo, ao invés, segundo literalmente disse, terá "camas e boquete". Constrangida, a tradutora recusou-se a interpretar o termo chulo e ele não satisfeito ainda insistiu se não havia palavra em alemão que traduzisse o vocábulo infeliz.Confira no vídeo abaixo.



Imaginem como devem sentir-se valorizados o funcionários da empresa. Além deste episódio a companhia também publicou um calendário no mesmo ano mostrando suas comissárias nuas. Quem voa sabe que, nessa profissão, lidar com o imaginário fértil do público sexualmente menos resolvido, constitui-se em desafio diário.

Pois é, quem acha que fica por aí a questão do pau-de-arara voador está enganado.
Além da iniciativa ter sido anunciada recentemente pela China Spring Airlines que também está estudando a opção, a Ryanair publicou uma enquete em seu website perguntando se o passageiro aceita voar de pé.

A estratégia para convencê-lo a clicar SIM é muito inteligente. A pergunta é se você aceita a voar de pé grátis. Depois perguntam se você voaria de pé por 50% de desconto. E por fim querem saber se você gostaria que os passageiros tivessem esta opção como acontecem nos trens e ônibus (convenhamos: que comparação triste).

Obviamente alguém que lhe cobra pelo papel higiênico nunca irá oferecer-lhe o vôo gratuitamente. Quanto aos 50%, lembram-se do bilhete estudantil? Assim que foi implementado o preço da entrada dobrou para que as entradas estudantis fossem vendidas por 50%. Trocamos o seis pelo meia dúzia e ainda lucraram com quem não é estudante.

Uma vez que o passageiro incauto clicar sim estará endossando a iniciativa da empresa. Ao fazê-lo dará ferramentas para pressionar a regulamentação aeronáutica internacional a ceder nas suas normas básicas de segurança.

Internacionalmente é proibido o transporte de pessoas em qualquer vôo durante pousos e decolagens e durante situações de instabilidade de vôo por motivos óbvios de proteção à vida.

Quanto a minha opinião de passageiro já me decidi. Só vôo com a Ryanair quando o senhor O'Leary empregar seus parentes imediatos como tripulantes.

E você? Quer voar de pé?

clique aqui e responda à enquete da empresa

sexta-feira, 3 de julho de 2009

1500 leitores em 39 países

Obrigado pelo carinho dos leitores. Já atingimos a marca dos 1.500, em 39 países. Nada mal para o blog que deveria postar duas vezes por mês. O fato é que o aumento na carga de trabalho do Aeroporto Internacional de Dubai tem me deixado pouco tempo pra mater a frequência.
Muito obrigado pela fidelidade.

A cultura do canudo

É triste saber que ainda se aplaude título na minha terra.
A graduação virou pompa, valorizando o título (canudo) mais do que o benefício que a fomação acadêmica traz.
Muitas vezes a função sequer necessita do conhecimento que o diploma concede.
Vê-se anúncios cobrando diploma em qualquer área! Certificado de inteligência?
É o Lobby da Academia infiltrando-se no mercado de trabalho, supervalorizando o produto oferecido das faculdades.
E a "academização" já chegou na aviação, quem diria. Esse ramo demanda estudo contínuo, esforço e dedicação constantes para manter-se atualizado. Os cursos realizados nas empresas são de altíssimo nível técnico. Ultimamente, no Brasil, exigimos Cientistas Aeronáuticos (Diploma de Ciências Aeronáuticas) para operar aeronaves.

O que há de errado com PILOTOS somente?Precisamos que sejam Cientistas?
Só para termos uma referência internacional os pilotos que desejam fazer MBA em Aviation Security ou Aviation Management tem o seu PC (habilitação de piloto comercial+experiência de carreira reconhecidos como nível superior e equiparados como título de graduação e podem iniciar-se no Mestrado.

Os cursos são convênio da Emirates Aviation College (Onde se treina simulador do A380) e da Edith Cowan University da Australia.
http://www.emiratesaviationcollege.com/aas/gen_info.html
Os cursos são financiados em 24 vezes sem juros pela Emirates (e o RH vive de olho nos formandos).

11 de setembro nos bastidores da aviação

Dois anos antes da tragédia...

Antes de a gente entrar no mérito político da questão, por favor, deixemos o Bush e o Bin "Você sabe quem" de fora do tópico.

Falando sobre aviação responderei a sua pergunta (senta que lá vem história):

Em 1999 fui convidado a um curso de Aviation Security em New Jersey, ciclo normal do treinamento para Ground Staff das empresas americanas. O curso era dado por uma empresa que presta serviço à todas da aviação do país, fundado por um ex-agente do Mossad, serviço secreto Israelense.

Na época nos vôos domésticos dos EUA não havia necessidade de triagem nas máquinas de raios x na entrada dos aeroportos e o escaneamento de bagagens domésticas na pista era aleatório, enquanto nos vôo internacionais a vigilância era integral somente na chegada.

Já em nossa base no Brasil tínhamos procedimentos rigorosos, que são os mesmos até depois dos atentados. Procedimentos da FAA inspirados em atentados anteriores e válidos na época somente para as bases internacionais.

Fiz uma pergunta ao instrutor: "_E se alguém pegar uma faca de cozinha e seqüestrar um vôo e jogá-lo no Empire State Building”. Por que é que eu fui falar? Só errei o prédio!

Ele nos disse que a segurança interna do país era responsabilidade do Department of Homeland Security (que compreende Imigração Serviço Secreto Alfândega entre outros - veja o link do organograma http://www.dhs.gov/xlibrary/photos/orgchart-web.png ) e que às empresas cabe a responsabilidade somente fora do território nacional americano.

Ainda lembro-me do comentário sarcástico do colega do fundão : “_Deixe estar jacaré, sua lagoa há de secar”. O mestre protestou pelo uso do idioma que ele não compreendia dentro da sala e nós continuamos a aula.

Esta doutrina foi reformada após os atentados e o escaneamento de bagagens de mão hoje é feito até nos vôos domésticos nos EUA. No início isso no início levou a aviação americana ao caos. Filas intermináveis nos aeroportos e reclamações dos passageiros geraram um efeito similar à implantação das portas detectoras nos bancos brasileiros.

O grande aumento do custo com a segurança refletiu-se na economia das empresas e no preço das passagens e a crise gerada com os atentados demandou subsídio governamental para que as empresas não quebrassem.

No fatídico dia...

Após o fechamento da minha base de CNF pedi uma promoção para Reservas onde estava havia três meses. Lembro-me que estava colocando o uniforme quando a rádio anunciou a primeira colisão. Para sair no horário deixei de ligar a TV para usar o aparelho da padaria próxima à minha casa. Quando vi a cena pasmei.

Lembro de comentar com o colega que também estava no local : "_La vai nosso emprego". E foi. Nós éramos os mais novos do departamento que encolheu absurdamente. Foram 15.000 demitidos mundialmente na minha empresa, quinze dias depois do governo americano assassinar a aviação recomendando para população , em cadeia nacional , que não saísse do país.

Seguindo para a central estávamos em alerta vermelho. Houve um apagão nas comunicações durante dois dias, não conseguíamos nem contato telefônico com a matriz devido ao colapso dos satélites. O mundo inteiro usando ao mesmo tempo congestionou a comunicação com o país.

Durante quatro dias seguidos não tínhamos sequer notícias de todos os vôos (nem qualquer outra empresa) o fechamento do espaço aéreo obrigou a grande maioria dos vôos internacionais a alternarem para outros países. Fatos curiosos aconteceram como o do vôo de Porto Rico que pousou em Toronto.

Tivemos notícias que na emergência muitos comandantes usaram até seus cartões de crédito para acomodar as tripulações em aeroportos onde a empresa não possuía acordo comercial. A empresa deu prioridade ao reembolso destes com urgência.

A linha parecia o C.V.V., parentes de passageiros emocionados uns chorando outros inconformados por não termos notícias os telefones não paravam foram os cinco dias mais estressantes da minha carreira.

No quarto dia já podíamos afirmar oficialmente que todos os vôos estavam em solo e seguros e que nenhum foi atingido, embora muitos deles não sabíamos exatamente onde foram pousar nem quando retornariam, pois o sistema ainda não fora completamente restabelecido. No quinto dia houve a abertura do espaço aéreo para retorno das aeronaves e restabelecimento do sistema.

O trabalho duro estendeu-se mês adentro até corrigirmos todo o caos burocrático que sobrou. Cancelamentos de vôo acumulados durante todos estes dias, milhões de bilhetes reembolsados e remarcações de reservas.Foi experiência pra uma vida espero não precisar aplicá-la nunca mais.

Armas à bordo

Na aviação brasileira não é permitido. Somente por policiais no exercício da função, com autorização por escrito da DPF e inspeção pelo agente de plantão que deve lavrar registro na delegacia. As armas devem estar desmuniciadas. Afinal, disparou à bordo a aeronave cai. Simples assim.

O chek-in coordena a identificação dos assentos dos passageiros que portam arma e comunica (através do flight manifest) à tripulação sendo proibido servir álcool a este passageiro. O cartão de embarque também deve ser marcado com código discreto e o oficial da lei deve ser auxiliado a embarcar de forma a evitar alarde indesejável.

É obrigatória a notificação ao próximo vôo, mesmo de outro transportador ,no caso de conexão.

Passageiros comuns não podem portar arma à bordo. Elas devem ser despachadas desmuniciadas em estojo apropriado.

Nas empresas americanas existe a figura do Air Marshal, funcionário do governo que presta segurança a bordo. Quatro deles embarcam armados em todos os vôos internacionais a paisana. Esta também foi uma regra criada depois dos atentados. O desembarque deles é garantido através de acordo bilateral conforme prevê a OACI.

Anteriormente somente policiais escoltando prisioneiros poderiam portar armas à bordo. Lembro-me de ter feito o embarque do presidente Bush o pai após seu mandato. Embacou em GRU. Os seguranças renderam o armamento que foi custodiado pelo comandante.

Veja a Instrução Normativa 8 de 03de Julho de 2002 (Da Polícia Federal)no link:

http://www.google.com/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=5&url=http%3A%2F%2Fwww.mariz.eti.br%2FIN%252008_02_DG_DPF.htm&ei=KvcOSo7vIMqPmAffw-jxBw&usg=AFQjCNFH0dOKzhaIXvJYkTvn-pDhcKa37A&sig2=GpVho8nH6dRmjYV7i8QuRg

Ou Portaria No26/GC5, DE 9 DE JANEIRO DE 2003 do MINISTÉRIO DA DEFESA GABINETE DO COMANDO DA AERONÁUTICA que traduz literalmente o anexo 17 da Convenção Internacinal de Aviação Civil

http://74.125.113.132/search?q=cache:89IkD6Dk-_4J:www.anac.gov.br/biblioteca/portarias/port0026GC5.pdf+RESOLU%C3%87%C3%83O+A22-17&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=us&lr=lang_pt&client=firefox-a

Ou o próprio Anexo 17 em inglês (excelente fonte de consulta em AVSEC)

http://www.scribd.com/doc/5509603/Annex-17-ICAO

Air Marshalls detendo o Passageiro à bordo