sábado, 30 de agosto de 2008

A Cultura Local - De quem?

Cultura local é um item delicado de se falar neste país, não pela definição de cultura em si e sim pela definição de "local" segundo os que vivem aqui. O que é um "local" nos Emirados Árabes?

As leis de naturalização aqui não são como as brasileiras. Conheci muitos nativos de Dubai que não são locais, aplicando-se o conceito dos Emirados. Mostaffah por exemplo é iraniano, nascido em Dubai há vinte anos, mas herdou a nacionalidade de seus pais. Said meu chefe é paquistanês, mas também nasceu aqui. Quem vem ao mundo neste país pode ser paquistanês, indiano, queniano, saudita, menos emirati (cidadão dos Emirados). A cidadania aqui é consangüínea.

Este mês tive a oportunidade de conhecer mais de perto a cultura muçulmana, além de vários episódios que observei no aeroporto também fui algumas vezes a uma mesquita orar com os irmãos. É muito bonito o senso de religiosidade desta gente. O muçulmano ajoelha-se e ora com a testa colada ao chão em sinal de humildade, todos se dedicam de acordo com suas disponibilidades a alguma atividade espiritual na comunidade. Neste contacto inicial tive conhecimento somente de atividades de oração e orientação espiritual. Alguns dedicam seu tempo a orientar os demais e costumam reservar alguns meses, na medida do possível para este retiro, onde participam de atividades nas mesquitas e pernoitam lá por meses para dividir um pouco de seu esclarecimento sobre a fé islâmica com os demais.

Conheci um irmão de Bangladesh e por coincidência tenho coordenado o vôo de sua companhia aérea nacional algumas vezes, a Biman Airlines, ou o Tigre de Bengala como eles se autodenominam nesta empresa. Através deste contacto com os bangladeshianos ou bengalis, percebi a carência material deste povo. O vôo é um 747-300 meio surrado, com 542 acentos de classe econômica exclusivamente e cujo interior inspira dó. Triste mesmo são as bagagens que muitas vezes têm coladas as fotos dos passageiros, pelo fato de serem analfabetos. Iletrados, porém organizados, embora não saibam escrever o próprio nome sabem da necessidade de identificar propriamente suas bagagens e o fazem sem exceção.

Espiritualmente este povo não deixa a desejar. Este irmão está morando lá na mesquita de Sharjah por um período de quatro meses se não me engano. Embora não seja proficiente em inglês soube sintetizar a essência de sua fé com simplicidade. Sempre me lembrarei do doce conselho que recebi: "Allah mostrará o caminho no seu coração seja qual for a sua religião". Qual foi a surpresa dos meus colegas que têm tentado converter este pobre infiel que lhes escreve e espanto dos que rotulam os islâmicos.

Estamos às vésperas do Ramadã, mês sagrado para os maometanos, que jejuam durante o dia. Apesar dos protestos dos expatriados de Dubai, tudo estará fechado do nascer ao pôr do sol. Na próxima postagem informarei sobre este evento com mais detalhes.