sexta-feira, 3 de julho de 2009

11 de setembro nos bastidores da aviação

Dois anos antes da tragédia...

Antes de a gente entrar no mérito político da questão, por favor, deixemos o Bush e o Bin "Você sabe quem" de fora do tópico.

Falando sobre aviação responderei a sua pergunta (senta que lá vem história):

Em 1999 fui convidado a um curso de Aviation Security em New Jersey, ciclo normal do treinamento para Ground Staff das empresas americanas. O curso era dado por uma empresa que presta serviço à todas da aviação do país, fundado por um ex-agente do Mossad, serviço secreto Israelense.

Na época nos vôos domésticos dos EUA não havia necessidade de triagem nas máquinas de raios x na entrada dos aeroportos e o escaneamento de bagagens domésticas na pista era aleatório, enquanto nos vôo internacionais a vigilância era integral somente na chegada.

Já em nossa base no Brasil tínhamos procedimentos rigorosos, que são os mesmos até depois dos atentados. Procedimentos da FAA inspirados em atentados anteriores e válidos na época somente para as bases internacionais.

Fiz uma pergunta ao instrutor: "_E se alguém pegar uma faca de cozinha e seqüestrar um vôo e jogá-lo no Empire State Building”. Por que é que eu fui falar? Só errei o prédio!

Ele nos disse que a segurança interna do país era responsabilidade do Department of Homeland Security (que compreende Imigração Serviço Secreto Alfândega entre outros - veja o link do organograma http://www.dhs.gov/xlibrary/photos/orgchart-web.png ) e que às empresas cabe a responsabilidade somente fora do território nacional americano.

Ainda lembro-me do comentário sarcástico do colega do fundão : “_Deixe estar jacaré, sua lagoa há de secar”. O mestre protestou pelo uso do idioma que ele não compreendia dentro da sala e nós continuamos a aula.

Esta doutrina foi reformada após os atentados e o escaneamento de bagagens de mão hoje é feito até nos vôos domésticos nos EUA. No início isso no início levou a aviação americana ao caos. Filas intermináveis nos aeroportos e reclamações dos passageiros geraram um efeito similar à implantação das portas detectoras nos bancos brasileiros.

O grande aumento do custo com a segurança refletiu-se na economia das empresas e no preço das passagens e a crise gerada com os atentados demandou subsídio governamental para que as empresas não quebrassem.

No fatídico dia...

Após o fechamento da minha base de CNF pedi uma promoção para Reservas onde estava havia três meses. Lembro-me que estava colocando o uniforme quando a rádio anunciou a primeira colisão. Para sair no horário deixei de ligar a TV para usar o aparelho da padaria próxima à minha casa. Quando vi a cena pasmei.

Lembro de comentar com o colega que também estava no local : "_La vai nosso emprego". E foi. Nós éramos os mais novos do departamento que encolheu absurdamente. Foram 15.000 demitidos mundialmente na minha empresa, quinze dias depois do governo americano assassinar a aviação recomendando para população , em cadeia nacional , que não saísse do país.

Seguindo para a central estávamos em alerta vermelho. Houve um apagão nas comunicações durante dois dias, não conseguíamos nem contato telefônico com a matriz devido ao colapso dos satélites. O mundo inteiro usando ao mesmo tempo congestionou a comunicação com o país.

Durante quatro dias seguidos não tínhamos sequer notícias de todos os vôos (nem qualquer outra empresa) o fechamento do espaço aéreo obrigou a grande maioria dos vôos internacionais a alternarem para outros países. Fatos curiosos aconteceram como o do vôo de Porto Rico que pousou em Toronto.

Tivemos notícias que na emergência muitos comandantes usaram até seus cartões de crédito para acomodar as tripulações em aeroportos onde a empresa não possuía acordo comercial. A empresa deu prioridade ao reembolso destes com urgência.

A linha parecia o C.V.V., parentes de passageiros emocionados uns chorando outros inconformados por não termos notícias os telefones não paravam foram os cinco dias mais estressantes da minha carreira.

No quarto dia já podíamos afirmar oficialmente que todos os vôos estavam em solo e seguros e que nenhum foi atingido, embora muitos deles não sabíamos exatamente onde foram pousar nem quando retornariam, pois o sistema ainda não fora completamente restabelecido. No quinto dia houve a abertura do espaço aéreo para retorno das aeronaves e restabelecimento do sistema.

O trabalho duro estendeu-se mês adentro até corrigirmos todo o caos burocrático que sobrou. Cancelamentos de vôo acumulados durante todos estes dias, milhões de bilhetes reembolsados e remarcações de reservas.Foi experiência pra uma vida espero não precisar aplicá-la nunca mais.

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